Ao contrário do que muitos imaginam, meditação não é a ausência do pensamento, não é se sentar numa determinada postura oriental, fechar os olhos, respirar profundamente e ficar sem pensar em nada. Até porque, do ponto de vista neurológico, não pensar em nada é impossível! Meditação, experencialmente, é um estado de atenção plena que só acontece no presente, no aqui e agora. É um profundo mergulho na própria consciência. É um fenômeno natural produzido na mente humana no sentido de diminuir as perturbações mentais e equalizar as ondas cerebrais. Meditação é, tecnicamente, caracterizada pela capacidade de promover estados expandidos de compreensão sobre a vida e gerenciar as alterações do comportamento mental. Não há meditação quando a mente está perturbada e inquieta. Meditação precisa, antes de mais nada, de quietude. Quietude no corpo, na mente e nas emoções. Somente com a mente tranquila e estável, produzimos, pela prática constante, os fenômenos mentais de melhor autoconhecimento, maior lucidez sobre as coisas e coerência na forma como decidimos e julgamos o que pode ser mais assertivo na arte de viver.
No contexto ocidental encontrado nos dicionários, meditação é a capacidade de refletir, parar para pensar, ponderar, deliberar mentalmente. É cessar um pouco a ação cotidiana para pensar sobre escolhas futuras, que se deseja, ou das escolhas passadas e seus resultados. Essa definição de meditação, de certa forma, é verdadeira. Pois meditar, para os orientais, em algumas escolas filosóficas e religiosas, é também exercitar a reflexão e/ou projeção mental.
Para que entendamos a ideia central das diferentes técnicas meditativas, não importa de onde seja a tradição ou escola, se do Oriente ou do Ocidente, se é antiga ou moderna. Essencialmente, toda e qualquer técnica de meditação trabalha com uma de duas matérias-primas mentais, que vou chamar aqui de princípios.
Primeiro princípio: é a meditação do “esvaziamento mental”. É a ideia de diminuir a frequência do pensamento, mas não o liquidar – até porque, como já dito, isso é impossível. De aquietar os pensamentos periféricos, aqueles que surgem sem sua vontade e insistem em permanecer ativos em sua mente. Essa técnica é caracterizada por diminuir a presença de pensamentos pertinentes ao passado e ao futuro. Como coisas que aconteceram, projetos que se deseja realizar, circunstâncias que mexeram com você ou que acredita que irão interferir na sua vida, seja para a melhor ou pior. Não importa, a ideia aqui é não pensar nessa linha do tempo, ou, tentar pensar menos nesses cenários que construímos a partir de um ponto de vista vivido ou projetado, que vivenciamos apenas em nossa mente.
Esse tipo de meditação é muito comum nas escolas budistas e é, hoje em dia, a mais praticada no mundo – por conta de um fenômeno histórico que ocorreu na antiga Índia e que estudaremos em outro momento. É chamada de meditação Shunya – a meditação do esvaziamento. (Shunya, em sânscrito, significa esvaziar).
Segundo princípio: é a meditação do “preenchimento mental”. Trabalha-se com a imaginação e/ou mentalização como matéria-prima essencial para acessar os estados expandidos de consciência. Basicamente consiste em produzir estímulos mentais que prendam a atenção do meditante em um objeto. Que pode ser símbolos, sons, cenários que envolvam paisagens, circunstâncias ou características que se deseja adquirir, ou a junção de todos esses elementos ou parte deles. A ideia central é imaginar e, pela permanência nessa imaginação, produzir a mentalização.
Talvez você pergunte qual é a diferença, então, entre imaginação e mentalização. Até certo ponto elas podem ser a mesma coisa, pois nascem e mantêm-se na ferramenta, que é a mente. Mas essencialmente, podemos entender a imaginação como a capacidade de produzir imagens mentais, às vezes, aleatórias e soltas por um pequeno período. Como imaginar as férias que se deseja, para onde viajar, melhor local para se hospedar, coisas que gostaria de ver, experimentar e sentir. Já a mentalização é quando reforçamos a capacidade imaginativa e a repetimos sistematicamente, produzindo um clichê mental ou arquétipo, dependendo da técnica utilizada. É quando, portanto, a informação, uma vez imaginada repetidamente, fica registrada e definida em nossa mente, e todas às vezes que nos reportamos a ela, na mente, a imagem está lá, e a cada novo acesso, ela se torna mais evidente e presente em nossa mente. Essa técnica de meditação, do preenchimento, é mais comum nas escolas de Yoga. Ela recebe o nome de Purna – a meditação do preenchimento mental (Purna, em sânscrito, significa, preencher, incorporar).
Se durante a prática da meditação você disser a si mesmo: “eu estou meditando”, significa, apenas, que você não está meditando. Quando meditamos não dizemos que meditamos, apenas estamos lá, num estado de consciência que não cabe teorização ou racionalização da técnica em si, no momento em que ela acontece. A meditação, do ponto de vista yogi, não acontece quando a mente fica tentando entender se você está ou não meditando, se o tempo está ou não passando ou que horas vai chegar a tal “iluminação”.
Não se medita querendo meditar! Como assim, então? Durante a prática da meditação, esforce-se para prender sua atenção na técnica utilizada e não nos efeitos que ela sugere. Procure cessar o diálogo mental aleatório. Tente não se deter nos pensamentos fora do contexto da prática, no sentido de não os analisar, considerá-los ou justificá-los. Deixe sua mente, seus pensamentos, fluir somente e dentro da técnica meditativa que você está praticando.
Sobre as técnicas de meditação conduzida, posso afirmar que a meditação só acontece quando cessa o diálogo, ou seja, quando a mente se aquieta e/ou o facilitador ou professor de meditação para de falar – interrompe a condução. A meditação conduzida é apenas um recurso, uma ferramenta para ajudar o praticante a produzir concentração e recolhimento da atenção, mas isso ainda não é a meditação. Então, sozinho e sem a interferência de nenhum fator externo, segue-se praticando a meditação – no silêncio do seu ser.
Veja neste site, na seção Podcasts, os exercícios de controle sensorial, concentração e meditação que sugerimos para você meditar e conseguir acessar os seus efeitos.
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