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O que são as técnicas corporais do yoga e qual a sua finalidade?


Ásana é uma prece feita com o corpo.
Parivrtta Parsvakonasana | Dharma Yoga São Paulo

O termo "ásana", popularmente conhecido como exercício ou técnica corporal utilizado nas aulas de yoga, possui um significado muito mais profundo do que a ideia de um simples exercício. Surgido há mais de 2000 anos na antiga Índia, o termo está descrito na literatura conhecida como "Yogasutras" (tratado do yoga doutrinário de Patáñjali) como sendo o assento firme e confortável onde o espírito se adequa e, então, pode acessar a iluminação. Isto é, ásana é uma atitude mental que confere estabilidade ao espírito do praticante. Contudo, é equivocado acreditar que um simples exercício físico possa conduzir à iluminação - samádhi (meta do yoga). Para tal, é necessário acrescentar ao treinamento as práticas psicológicas. O ásana, nesse sentido, atua como um reforço da estrutura biológica para que o praticante suporte o empuxo evolutivo ao estado expandido de consciência, samádhi, que vem através, obviamente, da meditação e observância na ética yogi. Para integrar o conceito de ásana, descrito na antiga literatura yogi, com a prática moderna das técnicas corporais que também recebem o nome "atualizado" de ásana, é essencial considerar algumas características. Apresento cinco principais:


1. Localização da Consciência


Localização da consciência sugere manter a atenção nas áreas de atuação do exercício. Ou seja, concentrar-se nas partes do corpo em que você sente a técnica agindo. Isso ajuda o cérebro a bombear mais sangue para a área com nutrientes e oxigênio concentrados. Contudo, o aspecto mais importante é o desenvolvimento da concentração, dhárana. A prática regular de manter a atenção focada em diferentes partes do corpo durante a execução das técnicas promove uma maior conexão mente-corpo. Isso não apenas aumenta a eficácia física dos ásanas, mas também contribui para a calma mental e a capacidade de meditação profunda.


2. Respiração Consciente


Respiração consciente consiste em manter um ritmo respiratório adequado ao exercício. Isso explora a melhora da capacidade pulmonar, da oxigenação e, o mais importante, amarra a característica anterior acentuando a capacidade de se concentrar sem dispersar. A respiração consciente favorece, também, a reeducação do sistema respiratório. Ao sincronizar a respiração com o movimento, o praticante de yoga pode alcançar um estado de maior harmonia interna, aumentando a eficiência do sistema cardiovascular e reduzindo os níveis de estresse. A prática regular de técnicas de respiração consciente também promove um estado de relaxamento profundo e maior controle sobre o sistema nervoso autônomo.


3. Mentalização


Mentalização envolve imaginar, enquanto executa a técnica, os resultados ocorrendo no exato momento em que você realiza o exercício. Além disso, mentalizar características físicas que se deseja acessar, sugeridas na prática das mesmas técnicas, desenvolve a capacidade imagética e inventiva do cérebro, reforçando aspectos do nosso imaginário. Estudos comprovam que a mentalização favorece a otimização dos efeitos das técnicas no corpo físico e mental. A prática de visualizar os objetivos e os estados desejados durante os ásanas fortalece a mente, melhora a concentração e ajuda a superar barreiras físicas e mentais, promovendo uma atitude positiva e proativa.


4. Sentimento Profundo


Sentimento profundo significa colocar o seu melhor enquanto executa a técnica. Ou seja, dar o melhor com as condições que se tem para que, a cada prática, se consiga produzir condições ainda melhores. Assim, o processo de evolução é contínuo e acelerado. É como o artista que, ao conceber sua arte, procura colocar o seu melhor para que o resultado de seu trabalho seja a melhor expressão de si mesmo. Costumo dizer que o ásana é como uma prece feita com o corpo. Isso desenvolve o senso de estética, beleza e amabilidade, mesmo em circunstâncias adversas, que são as que encontramos ao realizar técnicas que são fisicamente não naturais ou desconfortáveis. A prática com um sentimento profundo cultiva a disciplina, a perseverança e o amor próprio, tornando o caminho do yoga uma jornada transformadora e enriquecedora.


5. Persistência sem Produzir Dor


Durante o treinamento, é fundamental manter o vigor, mas nunca produzir dor. A prática do yoga deve ser realizada com dedicação e esforço constante, mas sempre respeitando os limites do corpo. A dor é um sinal de que algo está errado, e insistir em uma postura ou técnica que cause dor pode levar a lesões. Portanto, é essencial ouvir o corpo e ajustar a prática conforme necessário. A persistência, aliada ao cuidado e à autoconsciência, permite que o praticante progrida de forma segura e sustentável, alcançando seus objetivos a longo prazo.


Conclusão


As técnicas corporais do yoga, ou ásanas, vão muito além de simples exercícios físicos. Elas envolvem uma integração profunda entre corpo, mente e espírito, promovendo equilíbrio, concentração, respiração consciente, mentalização positiva e um sentimento profundo de entrega e dedicação. A prática regular dos ásanas, com essas características em mente, não apenas melhora a saúde física, mas também contribui para o bem-estar mental e emocional, conduzindo o praticante a um estado de harmonia e paz interior. O caminho para a iluminação, ou samádhi, é construído com disciplina, esforço constante e um profundo respeito pelos próprios limites. Ao adotar essa abordagem, o praticante de yoga pode transformar sua prática em uma poderosa ferramenta de crescimento pessoal e espiritual.


OM Shanti!

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2 Comments

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Entendi que dharana leva a consciência do asana, mas no caso da praticarmos a mentalização simultaneamente não facilita perdemos a concentração?


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Guest
Jun 27
Replying to

Dhárana, um dos estágios do Ashtanga Sádhana de Patáñjali, visa aprimorar o foco e a presença, permitindo que a consciência opere de maneira mais inteligente e expandida. Não se trata apenas de alcançar uma consciência adequada sobre o objeto de estudo, mas também de ampliar essa consciência através da observação atenta desse objeto.


A mentalização, ou Manásika, atua como uma ferramenta complementar essencial, ajudando a mente, que frequentemente se inclina a devaneios, a estabelecer uma continuidade abstrata no objeto em questão. Isso é alcançado através dos elementos que a mente mais aprecia, como a imaginação abstrata. Em termos gerais, a mentalização pode ser considerada uma forma de Dhárana.


Por exemplo, a respiração consciente, quando combinada com a mentalização do Prána…

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